É assim que recordo Arlindo.
O jovem mainato que , em Nampula, ajudava José no serviço da casa .Tratava do quintal , dava milho ás galinhas e fazia os recados necessários.
Era sério. Cumpridor e senhor das suas obrigações.
José, porém era mais que o nosso mainato .
Era um poema.
Sim.
José merece um poema.
Quase 50 anos passaram e a imagem de José mantém-se .
Nítida!
Tão nítida !
Quando lá chegámos foi-nos referenciado pelas suas qualidades de trabalho e seriedade.Começou pela limpeza da casa , mas rapidamente passou a fazer as refeições, o arranjo das roupas e a totalidade das tarefas.
Impecável !
Durante dois anos foi um servidor competente e íntegro.
A missão estava prestes a findar quando José resolveu fazer um pedido muito sério.
- "A senhora pode dizer ao nosso alferes que eu desejo ir com os senhores. Fazer o serviço lá como faço cá."
Encantada disse-lhe que nada me daria maior prazer.
Porque não ?
Porém não houve acordo. Surgiram mil obstáculos e a ideia não vingou.
José passou a andar triste . A não falar. Via-se a infelicidade no seu rosto.
Chegou o dia da partida. Fizemos as contas.Demos os nossos contactos e insistimos para nos contactar se necessitasse.
A despedida foi triste.
Havia a certeza duma despedida para sempre.
A seguir ao almoço José desapareceu e nós preparamo-nos para a partida que seria de comboio ao fim do dia.´para a Ilha de Moçambique onde apanharíamos o navio Pátria .
Pois bem.
Por volta das oito estávamos na estação de caminho de ferro , onde já estavam os nossos amigos para as últimas despedidas e entre eles José.
José ?
Como sabia ele a hora do comboio ?
José não falava mas sabia tudo.
Então a amizade surgiu em força.
- Que pena!
Que pena eu tenho da Senhora !
Não mais verei a Senhora.
E lágrimas , grossas e sentidas lágrimas caiam pelas faces de José.
É uma imagem que ficou.
Que guardo.
Por vezes penso:
- O que terá acontecido ao José ?
Hoje , ao ouvir referências a Moçambique , a imagem voltou.
O comboio a afastar-se e na estação um amigo que não mais veríamos.
Nunca mais.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Tantos josés que ficaram para trás, Tantos josés que Portugal teve e tem, mas poucos como a minha amiga ao fim de tanto anos, se lembram dos Josés. Linda
Há separações dolorosas. Como esta, quando as pessoas sabem que é para sempre. Que é um fim.
Por vezes, com muita procura, as pessoas reencontram-se. Quem sabe?
Felizmente hoje os contactos são mais facéis: e-mail, telefone, skype, facebook.
Espero que estas coisas aconteçam menos.
Ass. Vanessa
Enviar um comentário