Foi ontem que os vi. O dia estava escuro e a chuva começava a cair. Fui à janela e viu-os. De braço dado , escondidos debaixo dum guarda -chuva vermelho, caminhavam vagarosamente , indiferentes ao temporal que se aproximava. Pararam junto dum carro estacionado mesmo em frente da nossa janela. Conversavam e tudo indicava que eram dois jovens apaixonados. Ele abriu a porta do carro e segurou-a para ela entrar. Riam. Pareciam felizes.
Então reparei que já deveriam ambos ter ultrapassado os cinquenta...Amor duradouro? Reencontro ?Que interessa? Pareciam felizes!
O carro arrancou e deixei de os ver.Mas fiquei a pensar em como uma situação aparentemente semelhante, pode , na realidade,ser tão diferente.
Será que este homem só, sob o seu guara -chuva vermelho , não sente a tristeza que a chuva impiedosamente lhe traz ?
E , esta mulher , sózinha , igualmente protegida por um guara-chuva vermelho não sofrerá a angústia duma espera , talvez inútil ? Sempre foi uma atracção caminhar à chuva . Recordo as tardes distantes duma infância solitária ( de filha única ) em que implorava permissão para uma saída , por mais forte que a chuva caisse.
- Que tonta ! Gostar de andar à chuva! Mas se queres, vai. Leva o chapéu de chuva.
Continua a ser um prazer sair de casa numa manhã de chuva. A liberdade é uma companhia deliciosa !
Medo da chuva?
Porquê?
E temos , de há muito, um guarda-chuva vermelho, nosso companheiro de há muito, que nos garante que somos nós que temos escondida a capacidade de tornar o absurdo plausível.
Mas , seja como for se o parceiro nos agradar e se o considerarmos uma boa companhia é muito mais divertido caminhar a dois sob um guarda-chuva vermelho.
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