segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A ESPERA !

Conheço-a há dez anos. Desde que viemos morar para esta casa. Sempre com o marido. Até ele morrer. Sempre.
Idade ? A nossa.
Hoje ela disse:
- Somos exactamente da mesma idade.
- Como sabe ?
- Estava a tomar o pequeno almoço quando ouvi o número de velas para o bolo. Em Dezembro.Não foi ?
- Sim. 11 de Dezembr
A mesma idade ! Quem diria ? Coitada, sempre tão triste !
Impressiona vê-la !
Só e triste .
Dá uma sensação de abandono , de desalento , tristeza.
Solidão.
De qualquer modo não fica em casa. Fechada. Não! Sai. Vai tomar o pequeno almoço ao nosso restaurante. Quando chegamos para almoçar, ela já está sentada ao balcão.
Mas..................................
- Sente muito a falta do seu marido , não sente?
 Acho-a tão triste.
  Tão só. 
-Ontem estiveram cá em casa os filhos. Os netos. Um casal amigo.
  Durante a semana é que estou só.
  Sem saber o que fazer.
  Ele era a minha companhia.
  Foram 56 anos !
  Agora é difícil.
  Não sei viver sem ele !
  Bem tento, mas não sei.
  Não sei.............
  .................................
Separámo-nos. Ela ficou . Eu fui. 
Que dizer ? 
Quais as palavras que ela devia ouvir ?
Reagir ?
Arranjar motivação para viver ?
Viajar ?
Interesses?
Um trabalho comunitário ?
Internet ?
Nada. A solidão é tão grande que a preenche. Não deixa espaço para mais nada. Todas as palavras seriam absurdas. Sem sentido.
O tempo dos conselhos acabou.
Muitos anos antes é que ela devia ter aprendido a ter vida própria.
A ter uma finalidade para a sua existência.
Agora é tarde.
A única palavra que se adapta à Senhora triste é 
 
   A ESPERA .   

1 comentário:

Anónimo disse...

Que triste é não poder ultrapassar essa situação. Eu tinha procurado ajuda. Quando o luto ultrapassa o chamado tempo normal, deve-se procurar os técnicos. Enquanto se tem vida, tem-se esperança, não é verdade? Estou certa? Linda