A RODA DOS EXPOSTOS

Na nossa infância, no Algarve ouvíamos com frequência falar em crianças enjeitadas e que eram depositadas ,assim que nasciam , na chamada roda das expostos , que havia em muitos conventos.Era uma situação que nos atordoava pois não era possível compreender como se pode abandonar  um bébé.

Recordamos a nossa Tia Constança, velha senhora sobrinha da nossa avó , que habitava junto dum antigo convento , em Lagos , e que nos contava histórias fascinantes  desses tempos remotos.
Ela referia -se a uma passagem subterrânea que tinha sido descoberta e que ligava o Convento das Freiras com o dos Frades. Não havia sinal de crítica irreverente   no relato mas  apenas compreensão  para com aqueles que eram enclausurados contra a sua vontade . Pobres freirinhas ! Tão novas e lindas a quem o amor era proibido....
Ora a roda dos expostos era um dos temas mais focados e que nos fascinava. Ainda hoje , sempre que compramos o nosso passe no Metro , quando colocamos o dinheiro e a volta roda , para nos devolver o troco, essa imagem surge.

Vimos ou sonhámos ?
Temos quase a certeza que ela nos levou junto da janela do Convento do Carmo e nos mostrou a roda  onde eram depositadas as crianças .
Ou será a nossa imaginação ?
Há tanto tempo !

O que ela também nos disse é que as mães que assim procediam era porque não tinham possibilidade de criar os seus filhos mas que deixavam sempre um sinal para os reconhecer.
Daí partíamos para histórias fantásticas de enjeitados que mais tarde voltavam para a sua família.
Ora, temos aqui junto de nós o Diário de Notícias de hoje com um artigo
" A roda dos enjeitados voltou em força à Europa " 
O artigo de um investigador britânico colocou Portugal na rota dos países que possuíam ou estão a criar a roda dos enjeitados moderna.

Ao longo de dois anos , Kevin Brown  e a sua equipa  estudaram a forma como os países europeus  lidam  com o abandono das crianças e concluiu  que 11 países da União Europeia  possuem esse  "mecanismo " de abandono anónimo de crianças , muito usado nos séculos XVII e XVIII. Panorama confirmado pelas próprias Nações Unidas , que se mostram preocupadas com o regresso de uma " prática que contraria os direitos " da criança .

Para já o Instituto de Apoio à Criança e instituições de solidariedade , afirmam desconhecer a existência da roda que preocupa a ONU.