segunda-feira, 9 de julho de 2012

MEMÓRIAS

Aqui há anos, numa aula de Psicologia , tivemos dificuldade em compreender a importância do esquecimento.
À primeira vista , a faculdade de lembrar, era tão importante , que, era difícil acreditar que o esquecimento também devia ser encarado como útil.
Agora, finalmente, compreendemos que há lembranças que devem ir para a arca do que não nos é necessário, e ficarem lá muito tranquilas , adormecidas no seu conforto , sem pretenderem revelar a sua capacidade de agitar a nossa existência.

Sem termos consciência do seu poder , elas, as lembranças, estão sempre presentes ,justificam os nossos actos, orientam a nossa conduta e podem arruinar a nossa vida.
Claro que podem.
E, fazem-no muitas vezes.
Se fazem !

No sábado passado , tivemos um almoço de amigos e , as recordações vieram à baila na conversa amena que tivemos na tranquilidade duma tarde de verão.
A velha amizade proporcionava uma catarse que não demorou a chegar:
- A verdade é que sempre senti que o meu pai não gostava de mim. Eu não era o filho que ele  queria.   Sempre me rejeitou. 
  Sempre !
Ao ouvi-lo , tivemos a certeza que não era uma fantasia. Era uma verdade dolorosa e catalisadora duma existência marcada por essa circunstância dolorosa.
A irmã do nosso amigo, que se encontrava  presente, não negou a afirmação. Ouviu-a em silêncio.
Nós , pensámos :
- Para todas as condutas há uma justificação. Ela aqui está. Nas atitudes de agressividade injustificada, nas reacções intempestivas e que criam perplexidade a quem assiste, há a amargura duma criança mal amada que magoa porque foi magoada.
E nós ?
Tivemos um pai que nos adorou . Que nos deu o céu e a terra mas será que fomos devidamente amadas pela nossa mãe ?
 Na infância e adolescência, não. Sempre existiu um clima de rivalidade e  ciúme que originou um afastamento prolongado.
Mais tarde, com o acalmar dos sentimentos , o amor chegou.
Mas as frases impiedosas ouvidas na altura , ficaram porque  fizeram doer. 
E estão.
Na arca das recordações , onde desejamos que elas permaneçam imóveis.
Fechadas .
Adormecidas num sono que sabemos não ser profundo. porque ao menor ruído elas despertam e mostram a sua força.
Quem não tem uma arca onde guarda o seu passado ?
Assim
Desejamos que aqueles a quem estamos ligados por laços de ternura guardem na arca das suas vidas recordações de  momentos felizes que contribuam para memórias  que façam apelo à alegria e não à amargura.

1 comentário:

Anónimo disse...

No sábado pensei: a minha amiga não se manifesta hoje, foi um almoço, e acertei. Falando em arcas todos temos uma arca, e que quando somos mais novos lembramos-nos das más recordações, mas com o passar dos anos sublimamos e recorda-se boas recordações e chegamos á conclusão que não foram assim tão más, e se sofreu por não valorizar o que de bom se passou desde a infância. Também procurei sempre que a ciência me desse ajuda. Ainda hoje sou assim, estou no século XXI, quase não há impossíveis.Continuo como as crianças, porquê, porquê? Linda