sábado, 27 de agosto de 2011

UMA HISTÓRIA QUE DÁ QUE PENSAR


Esta história, absolutamente verdadeira, passou-se há muito tempo. Mais de 30 anos. Não a esqueci e vou tentar saber se o Carlos e o Diogo  ainda a recordam.
Estavamos nas férias da Páscoa. Não havia aulas e resolvemos ir até ao Campo Grande passar a manhã.
Tudo bem. Havia outros meninos. Jogaram à bola . Divertiram-se e chegou a hora do regresso.
Um dos participantes da brincadeira ( via-se que era uma criança com poucas possibilidades económicas ), agarrou a bola e resolveu não a entregar.
- Vamos lá. Entrega a bola. 
  O Carlos e o Diogo querem a sua bola.
  Vá.
  Entrega a bola.
O menino não se dispunha a dá-la.
Agarrou-a com ambas as mãos de encontro ao peito e gritou :
 - Não.
  Não a dou.
As outras crianças olhavam caladas. Não havia adultos.Como resolver o problema ?
( Diga-se que não se tratava duma bola vulgar. Era mesmo uma bola de fooball das autênticas que eles adoravam. Esta tinha sido dada pela empregada deles , pela Celeste. A outra  - pois tinham outra - fora oferta dos avós).
Vendo que a outra criança não cedia, perante o impasse, e resolvendo acabar com a situação, a questão foi resolvida .
-Como vocês têm outra bola, o menino não tem nenhuma , esta fica para ele. Vamos embora.
 Acabou.
Apanhámos o táxi para casa e, foi então que o Carlos e o Diogo manifestaram a sua discordância.
-Foi muito mal resolvido. Não tinhas o direito de dar anossa bola. Era nossa. Não podias ter feito o que fizeste. NÃO HÁ DIREITO DE TERMOS FICADO SEM A NOSSA BOLA.
-Mas vocês têm outra igual e o menino não tinha possibilidades de a ter....
- Não interessa.
  A bola era nossa .Não tinhas o direito de a dar.

Já se passaram , praticamente 35 anos, mas não esqueci o episódio.
O sentimento que ficou foi o de uma injustiça. Na realidade eles tinham outra bola. Mas esta era deles.
Será que foi justo tirá-la para a dar a outra criança que não a tinha e nem sequer podia ser encarada a hipótese de a comprar ?

Não sei se o Carlos e o Diogo recordam esta história.
Quando se fala em ricos e pobres, no direito de propriedade, no que é justo e injusto...
Recordo-a.
E penso :
Será que naquele dia agi correctamente ? .

  
  .  

2 comentários:

Carlos Moura-Carvalho disse...

:)
Acho que fizeste bem, mãe! Um beijo

Anónimo disse...

É o que eu pensei, pais com valores, filhos com valores. Havia uma menina que em criança não queria comer, não tinha apetite. A família dizia: come, olha que há muitas crianças querem comer, e não tem. A criança resmungava e pensava, quero lá saber. Mas mesmo no andar abaixo havia uma criança que passava fome, o pai da menina farta pagava para que a menina tivesse refeições. Sedo a menina farta acordou e cresceu com o coração alerta para o que se passava em volta. Nunca mais deixou de olhar para o que a rodeava, luta ainda hoje, não por uma igualdade, isso é uma utopia. Mas luta por uma justiça em que a fome não tenha lugar no mundo. Um dia parte, mas vai com a certeza, que o mundo pula e avança como a bola colorida entre as mãos de uma criança. Linda