11 horas.
A estação do Metro do Campo Pequeno estava completamente vazia.
Só nós esperávamos por transporte.
Do outro lado do cais um vigilante olhava-nos.
De repente, vimos perto de nós, uma jovem funcionária com o fato das mulheres de limpeza que cuidadosamente verificava se haveria algo para apanhar. Um jornal? Uma beata ?As mãos com luvas procuravam......
Idade ?
Talvez 30 anos.
Bonita, mas com o rosto vincado por uma vida daquelas que deixam marcas.
Parou junto de nós e não deixámos escapar a ocasião para comunicar :
- Não imagina como a aprecio.
Bonita como é, não se importa de fazer um trabalho tão humilde.E fica-lhe tão bem a trança negra !
Ela olhou-nos e apenas disse :
- Tem que ser.
Que mais posso fazer ?
Tenho dois filhos para criar.
- Sabe a razão do meu espanto?
É porque só oiço dizer :
-Não há trabalho.
Não há trabalho.
Ainda ontem uma inquilina disse que não conseguia pagar a renda deste mês porque não tinha trabalho.....
A resposta pronta e rápida foi:
- A senhora não acredite.
Quem quer trabalhar trabalha.
Eu inscrevi-me para as limpezas e tenho o tempo todo ocupado.
O que é que eu faria sem trabalho ?
Não tenho ajuda de ninguém.
E os meus filhos têm que comer.
Não têm ?
- O Metro chegou e nós partimos.
A funcionária de trança preta e boca cor de rosa lá ficou cumprindo a sua tarefa.
Ela tem os filhos para criar e ninguém a ajuda.
Trabalho ?
Ela diz que tem sempre.
Ficámos a pensar nela .
Ainda estamos a recordar as suas palavras.
Será?
Será que ela tem sempre trabalho ?
1 comentário:
Nós sabemos que não há trabalho para todos, porque se não, não haveria perto de 700 mil desempregados, não é verdade? Aqui, alguns dias atrás, dizia um entrevistado: que na sua casa passaria a ter só de quinze em quinze dias a pessoa que era semanal. Quem dizia, era uma pessoa perto da minha idade. Linda
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