Há dois dias ouvimos Maria Filomena Mónica dizer como encara a morte e como deseja que as suas últimas vontades sejam cumpridas.
Quer ter o poder de decidir se quer terminar com a sua vida caso a esperança tenha chegado ao fim.
Agnóstica , afirma a sua total descrença numa outra vida e em Deus e quer morrer com dignidade.
Hoje , realizou-se o funeral de Maria José Nogueira Pinto.
Todos os jornais trazem relatos da sua vida, obra, ideologia, acção política.
O Diário de Notícias traz mais :
Apresenta-nos o seu último o artigo, recebido na redacção do jornal , poucas horas antes da sua morte.
NADA ME FALTARÁ
"Nas fraquezas e limites da condição humana, tentei travar esse bom combate de que fala o apóstolo Paulo. E guardei a Fé.
Tem sido bom viver estes tempos felizes e difíceis, porque uma vida boa não é uma boa vida. Estou agora num combate mais pessoal, contra um inimigo subtil ,silencioso, traiçoeiro. Neste combate conto com a ciência dos homens e com a graça de Deus, Pai de nós todos, para não ter medo.E também com a família e com os amigos. Esperando o pior , mas confiando no melhor.
Seja qual for o desfecho, como o Senhor é o meu pastor nada me faltará.
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Duas mulheres inteligentes e cultas , de idades aproximadas , mostram-nos o seu pensamento perante a morte.
Uma é agnóstica.
A outra crente.
Uma pensa , que talvez ainda disponha de 10 anos de vida mas exige que não lhe prolonguem inutilmente a existência. Quer ser senhora absoluta do seu destino até ao fim.
A outra , está às portas da morte. Conta com Deus , ( pai todo poderoso ) para não ter medo.
Deposita a sua vida nas mãos do seu Senhor acreditando que nada lhe faltará........................................................................
Apetece-nos perguntar :
- Será que Filomena Mónica diria as mesmas palavras se estivesse na situação de proximidade em que se encontrava Maria José? A morte a chegar. Ali tão perto!!!!À cabeceira....
Voltamos a Jean Barois. Ao TESTAMENTO DE JEAN BAROIS de leitura obrigatória.
Recordamos ainda o filme José e Pilar ( que vimos há dias ) e as palavras de descrença repetidas até a exaustão, por Saramago: Deus não existe ! Não acredito nem no Céu nem no Inferno ! Sou agnóstico! Descrente ! Atéu !
A certa altura , chegámos a pensar, que ele se queria convencer a si próprio das suas palavras.
Seria ?
A palavra que mais fortementese impõe é
MEDO
Medo de perder o juízo - de ficar dependente Maria Filomena Mónica
Medo de ter medo perante a morte Maria José Noguera Pinto
Medo de deixar deixar de ser atéu Saramago
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MEDO.
SEMPRE O MEDO.
Denominador comum das nossas vidas.
Ele está sempre presente.
Na vida e na morte.
Nas nossas escolhas e decisões.
- Já pensaram quantas vezes repetimos essa palavra ? - Tenho medo de não ser capaz..Tenho medo que me falte a coragem.....Tenho medo de não ter dinheiro, trabalho, ocupação.... Da chuva. Do sol do vento ...Medo de ficar só. De não gostarem de mim. De sofrer. De viver.
De morrer.O MAIOR DE TODOS OS MEDOS.
1 comentário:
Lendo esse três relatos, dou razão a todos, porque todos têm as suas razões e que eu compreendo. Claro que para mim desde que a vida esteja sem remédio, sem esperança de cura, então eu não desejo viver. Na situação de Maria José G. Pinto existia a esperança, não só em Deus como na ciência. Claro que quem ter fé e esta é levada a sério como me parece que levava, a ajuda no sofrimento é maior. Será que eu não queria ser assim? Mas como não é o meu caso, estou mais do lado de: Saramago e Maria Filomena. Mas lutarei sempre pela vida com força, mas, se chegar a hora da escolha, gostava de ser eu a escolher. Costumo a dizer: já basta a vida para sofrer, não quero sofrimentos sob-humanos no corpo. Linda
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