sexta-feira, 16 de abril de 2010

UM FINAL FELIZ


Foi em 1946.
Setembro de 1946.
Agosto fora o mês da praia, banhos infindáveis, passeios de barco. Mar e calor. Calor e mar! A 29 foi o banho que todos tomávamos . Valia por 29! Será que essa velha tradição ainda subsiste?  Tantos anos! Tantos!
-"Amanhã vais para o campo. Precisas de bons ares. Tens andado numa agitação louca! Em casa dos avós, terás calma. Só te fará bem. Depois, ainda terás praia. Só a 6 de Outubro voltas para o Colégio."Era uma ordem. Discutir? Para quê? Era uma ordem.
Afinal, não teria calma. Estavam lá, a passar férias vários amigos. Que bom! O Miguel. A Xica. A Iria. O Zé Henrique. Passeios. Mais passeios. De biciclete. A pé. Amanhã vamos subir a Rocha. Todos. Vamos?
-Vou dizer ao António para ir connosco. Coitado! Sempre sózinho. Tão sózinho!
- Quem o mandou ir para o Seminário? Será maluco? 
-Vocação.
-Vocação para quê? Não sabe o que o espera?
- Tem que ser tonto. É tonto. Ele quererá ir ?
-Vou tentar. Coitado! Sempre sózinho!
António aceitou o convite. Foram de manhã cedinho. Com o calor não se brinca. E com chapéu de palha. Não esquecer o chapéu de palha.O sol! Tão forte! 
-Levam a Kodak? Tirem fotografias.Uma recordação. Divirtam-se.Cuidado com as quedas. Cuidado.
Belo e alegre grupo! Tão novos! 13, 14 anos! Pardais a aprender a voar. Jovens. A sair da  infância. A crescer. A aprender a viver. A viver.
A Rocha era ( é ) íngreme. Muito íngreme. Difícil de subir. Difícil. Dá-me a mão. Agarra-te a mim. Segura-te bem. Risos. Calor!Vá, olhem para a máquina. Uma fotografia. Vá. Outra. O António tira. António não ficou em nenhuma. Afastou-se. Sempre. Coitado! Vestido de preto. Que agoiro! Porquê? Com este calor .Todo de preto!  Olhos tristes! Olhar triste! Sempre. Porque está ele tão triste? Padre? Porquê? 
- Então, divertiram-se? Gostaram do passeio?
- Só não gostámos do "Padreca". Um agoiro! Sempre calado.
- Porque o  convidaste? Esteve sempre a olhar para ti. Sempre.
As fotografias ainda existem. Todos sorridentes. De chapéu de palha .Rindo. Muito. António não está.
Passaram anos.
Muitos.
Uma recordação daquele verão distante.
- O que é feito do António?  É padre?
- Padre? Porquê? É engenheiro. Claro que é casado. Tem filhos e netos. Claro.
 Esteve no seminário? Não sabia...


2 comentários:

Anónimo disse...

Fez-me lembrar o mês de Agosto passado em Albufeira onde havia uma só fila de toldos. O banheiro chamava-se António e havia a senhora Lucia que vendia uns bolos óptimos tranportados numa caixa de lata com gavetas onde perfilavam morgadinhos D Rodrigos e outros que toda a gente ainda se recorda. Piqueniques pelas praias lindíssimas despidas de cimento. Eram os Catitas, os Buisel e o pai Costa de Sintra que organizava as passeatas.Depois vieram os ingleses, muitos de nós mudaram de praia mas ficou sempre a recordação e as fotos desses belos passeios. Algarvia

Anónimo disse...

A minha recordação, é da infância.Ía com as tias.A praia era de matosinhos. mas eu, chamava-lhe a praia das formigas, porque havia miutas.Também não era Agosto.Mas, era a liberdade de saltar das rochas, que me pareciam gigantes.Entre o medo e o praser de ir pelo ar...eu,saltava com as tias de mãos na cabeça.Áí,que ela se mata.E eu feliz, porque alí nenguem podia bater.Linda