Eunice Muñoz , aos 82 anos assinala 70 de carreira. Sobe hoje ao palco do teatro Experimental de Cascais com um clássico de Tennesse Williams - O comboio da madrugada. Vi-a , no domingo à noite no programa Câmara Clara e fiquei fascinada. Simples, extraordinariamente lúcida e calma, falou-nos da sua carreira, família, amores , paixões, sucessos, dum modo tranquilo , próprio de quem está de bem com a sua consciência.
No final do programa foi como se ela nos tivesse dito :- Foi esta a minha vida. Não me importo de a expôr. Não me envergonho de nada. Amei, sofri, tive êxitos e fracassos. Estou a caminhar para o fim mas foi bom. Foi uma existência com momentos maravilhosos. Tive uma carreira que me enriqueceu. Tenho filhos e netos que adoro.
Claro que sou uma mulher feliz.
Agora será Flora Goforth ( na peça encenada pelo seu grande amigo Carlos Avilez ) e o papel que vai representar parece ter sido criado para ela. Soberbo!
Esta é a história de uma mulher muito bonita, que teve 7 maridos e vive num castelo de impossível acesso, com ferozes cães de guarda . Mas há um jovem que consegue lá chegar . E apaixonam-se. Ele é um anjo da morte, que a vem buscar. Ela vai morrer mas, morre por amor ".
Eunice diz-nos : "Fiquei logo apaixonada por ela. É uma louca e destrambelhada criatura. Mas, tal como eu, está sempre viva. Quase que não tive que representar ".
A peça ( que nos despertou o maior interesse ) assinala não só os 70 anos de carreira da actriz como os 45 do TEC- Teatro Experimental de Cascais .A certa altura perguntaram a Flora :-" Como é o sentimento de ser uma lenda durante a própria vida?". A mesma pergunta foi feita a Eunice que, ao contrário de Flora não se deixa maravilhar pela fama.
"Não se pode pensar nisso. Faz muito mal, pode fazer-nos cair em grandes ciladas. É preciso estudar sempre. Há que fazer um dique contra essa sensação."
Daqui a algumas horas, mais uma noite apaixonante será vivida por Eunice , que por muitos é considerada uma das melhores actrizes portuguesas de sempre. Bom será que o público acorra pois o bom teatro bem merece ser acarinhado. E o TEC bem o tem provado.
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2 comentários:
Também vi a entrevista e gostei, e não podia ser de outra maneira, depois de se apresentar com tanta simplecidade perante as câmaras. A primeira peça que vi dela foi já a muitos anos, foi a mãe coragem. Estava sequiosa por boas peças e essa ficou gravada. Abriu-se a porta da liberdade e o teatro saiu para a rua a confirmar a nossa sede de outras realidades bem mais inteligentes. Linda
Sou admiradora da Eunice Muñoz.
Conto ir vê-la à Cascais e levar-lhe rosas vermelhas.
A última vez que a vi foi no "Ano do Pensamento Mágico" no Teatro D.Maria.
A Eunice esteve sozinha no palco num monologo (dirigindo-se ao público) comovente.
Ela é brilhante.
Que a Deus a deixe deste lado connosco, ainda, por muito tempo.
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