terça-feira, 13 de outubro de 2009

Uma mulher que ama demais



Conheço-a. Somos amigas há mais de 20 anos. Costumamos viajar juntas. Leccionei os filhos dela. Sou amiga do marido. Casamentos, baptizados, aniversários. As nossas famílias sempre se encontraram. Feliz a minha amiga? Sempre pensei que o era,dentro dos limites da felicidade, claro.
Um dia, no Brasil, conversando, ela queixou-se do maxilar. Naturalmente, perguntei-lhe qual era o problema. Olhou-me, hesitou e acabou por dizer:
"Sabe, a minha vida não é, nem de longe, o que aparenta... Zangas, discussões, gritos, acusações até agressões físicas...Internamentos em Santa Maria..." Perante o meu espanto, timidamente, continuou "numa dessas cenas o "Tó" (ela sempre o tratou pelo diminuitivo) várias vezes ultrapassou a agressão verbal... Partiu-me o maxilar e todos os dentes superiores. No hospital perceberam que não tinha sido só a queda que eu referira e obrigaram-me a fazer a devida acusação. Claro que não fiz... Ele é o pai dos meus filhos, não é?" Espanto, indignação, revolta... Como era possível que uma mulher independente, lindíssima, licenciada, emancipada ideológicamente, se sujeitasse a tão grande humilhação?
Só encontro explicação na infância dolorosa que ela viveu: morte prematura da mãe, ligação do pai com uma jovem da sua idade, carências afectivas a todos os niveís.
Parece mentira. É incrivel mas ainda hoje estão juntos.
É esta, uma mulher, que ama demais?
Será forte?
Será fraca?
Não encontro resposta. Mas ela continua a ser uma das minhas amigas que eu aceito, mas não compreendo.

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