terça-feira, 20 de outubro de 2009

"O drama de João Barois", de Roger Martin du Gard





"O drama de João Barois", de Roger Martin du Gard é, sem dúvida, o livro que mais me marcou.
Desde há mais de 50 anos que ele é a minha maior referência ideológica sobretudo no campo religioso. Sempre actual. Agora, com a polémica levantada com o lançamento de "Caim", ainda mais premente é a sua leitura. Está aqui, junto de mim, velhinho de tão lido. Sublinhado? Claro. Como faço sempre quando gosto." Os livros não se devem sublinhar. Nunca se faz isso". Pois eu faço. Fá-lo-ei sempre. Nada de principios obsoletos. Nada de dogmas que não se compreendem. Pronto, já chegámos. Já estamos na obra e em toda a sua problemática.  Religião. Deus. Poder. Educação religiosa. Fanatismo. Guerras. Guerras. Sempre Guerras.
Há 50 anos como hoje.
João Barois tinha dúvidas. Até certezas. Tantas! Tantas, como as que nós temos... Por isso escreveu o seu testamento enquanto estava lúcido. Enquanto o fantasma da morte estava longe. Enquanto "O Medo" estava longe... Ele pressentia que não conseguiria resistir.
Foi o que se verificou. Ainda pior do que ele esperava. A filha queimou o testamento. Nada restou da vontade de João Barois.
A educação religiosa venceu. A Igreja,  o Poder, a Mulher, a Filha, o Abade ( ?)... venceram... Luce, o firme Luce não.
Será que Saramago na reta final da sua vida não é a voz de Luce?
Ele esteve perto da morte há pouco tempo. Escreveu para se divertir "A memória do elefante".
Não será que ele considera "Caim" o seu testamento?i
Ainda não li o livro. O que me interessa é o Porquê. Porque desejou ele levantar, agora, tão grande polémica?
Penso que ele desejou deixar o seu nome ligado à  sua revolta.  Ele quer que saibam que ele não pactuou. Que ainda teve tempo de mostrar o que ele considera um terrível logro... A existência de Deus/es e de todos os poderes que daí advêm.
Sempre me afligi com a obra de Saramago. Só gostei do Memorial do Convento.O seu rosto nunca me agradou... Expressão severa. Lábios demasiado finos. Frases duras....
Agora compreendo esta sua tomada de posição.

6 comentários:

lena ventura disse...

Inteiramente de acordo!
Saramago devia ser um caso muito interessante para um psicanalista analisar.
Tem muitos problemas antigos mal resolvidos e tenta exorcizá-los através dos romances.
Exorbita em arrogância e, desde que recebeu o Nobel, está pior.
Tem muita imaginação, deve pesquisar muito, mas, quanto a mim, no que diz respeito a coerência entre o que escreve e apregoa, em confronto com a prática, tenho sérias dúvidas...
e ... fico-me por aqui.

lena ventura disse...

Querida, deve ter-se enganado - desculpe a correcção: o livro que refere chama-se " A Viagem do Elefante" - lapsus calami, certamente.

Carlos Moura-Carvalho disse...

Lamento discordar. A intenção de Saramago não é reafirmar as suas convicções, de forma a deixar claro que não pactuou.
A visão que tenho de Saramago é a de um calculista, que tudo faz para, em proveito próprio, beneficiar.
Desde a ida para Espanha, à influência que a mulher, uma ex jornalista, tem nos media, e que conduziu ao Nobel, ao apoio recente a António Costa depois de ter recebido a Casa dos Bicos e um significativo apoio financeiro para a sua fundação (com o seu nome...) que ninguém sabe muito bem para que seja, a não ser projectar o seu nome.
As recentes declarações aquando do lançamento do livro, não são mais de que mais um golpe de marketing em proveito próprio. Não são nem a sua redenção nem o marcar de uma posição. Infelizmente. Espera-se mais de um prémio Nobel.

Moi-même disse...

Gostei da análise que a Constança fez e as analogias que estabeleceu entre Roger Martin du Gard e Saramago. Pode muito bem ser que tenha uma visão do aqui e agora e da própria posteridade, que o levem a assumir estas posições. Não nos esqueçamos de Salmon Rushdie e da senda de revolta que gerou no mundo Islâmico. O Ocidente (Igreja Romana e os Judeístas - melhor dizendo a Igreja Judaico-Cristã) apesar de terem marcardo posição, comportaram-se civilizadamente. E melhor fariam se ninguém lhe tivesse dito nada...porque, no fim de contas, o Carlos é que tem razão. Trata-se de uma operação de Marketing digna do Duda (brasileiro que lançou o Lula e que está na berra...). Só que esta campanha foi lançada pela Pilarzita/Barbie fora de prazo...ela é que manobra bem estas coisas!!!
Quanto ao Nobel há muito que devia ter sido atribuído a António Lobo Antunes!!!!

Rodrigo Quina disse...

Cara Dra. Dina,

Escrevo aqui não para comentar o seu Post, mas para felicitá-la pelo Blogue no seu todo!
Pela vitalidade que demonstra, não só na escrita como quando a vejo, o que para minha alegria é quase todas as semanas na ginástica! E é um prazer com 31 anos, ver a minha antiga explicadora na mesma aula que eu a ginasticar-se!
Com este blogue sinto que voltou a ser minha explicadora,vou le-lo com assiduidade!

E peço desculpa pelos erros gramaticais, apesar das boas professoras que tive, sempre fui cabula! eheh!

Um grande beijinho

Rodrigo

ps- Nao resisto a comentar o assunto Saramago: Nao gosto dele! :)

Anónimo disse...

A Viagem do Elefante é também, de certo modo, uma "memória final" (na sequência e contraposição a "Viagem a Portugal"), mas é, igualmente,uma ácida memória: diria, uma acusação terrível: patas de elefante transformadas em pés decorativos de uma mesa (a que sustentou? a que foi reduzida? a que transformou?)...