quarta-feira, 25 de abril de 2012

Junho de 1975

Esta história, absolutamente verídica ,leva-nos a recordar os anos que se seguiram a Abril de 1974.

Gilberto era um rapaz muito conhecido na sua terra. Além de barbeiro , tocava acordeão muito bem e , assim , tinha-se tornado indispensável em todas as festas e festanças daquela aldeia e redondezas.
Durante a semana dedicava-se ao seu ofício . Clientes não lhe faltavam. Ao sábado e domingo podiam contar com ele para casamentos e baptizados.
Ora
Entre os seus clientes havia um que era especial.
Chamava-se António, mas carinhosamente todos o tratavam por Antonico.
Pois bem.
Antonico e Gilberto eram da mesma criação.
Cresceram juntos.
Brincaram juntos.
Eram como irmãos.
A mãe de Antonico era madrinha de Gilberto . Considerava-o como filho. Amigos do peito desde sempre.
Como irmãos ?
Como irmãos.
Numa determinada manhã de 1975 , Antonico foi fazer a barba e cortar o cabelo à Barbearia de Gilberto.
Quando se estava a realizar a "  operação " Gilberto , diz em voz alta e sonora :
-Antonico,  não sei como me estou a conter que não lhe espeto esta navalha no pescoço...
- Homem, você endoideceu.
  O que é que eu lhe fiz ?
- O Antonico é um fascista. Um fascista !
- Porque é que você me está a chamar isso ? Porque é que eu sou fascista ?
- Porque é rico. 
  Muito rico.
  Todos os ricos são fascistas e o Antonico é fascista. 
Esta absurda e triste história não ficou por aqui pois este barbeiro de triste memória ainda realizou uma manifestação de contestatários do 25 de Abril,que se dirigiu para a residência do perplexo cidadão que tinha como único defeito pertencer a uma família de posses.

 Gostamos de recordar a alegria que sentimos no 25 de Abril de 1974.
 Mas, esta triste história está sempre na nossa mente, porque se passou com a nossa família.
 Fascistas ?
  Nós ?

1 comentário:

Anónimo disse...

A maior porte do povo não tinha e ainda bem o ressentimento de Gilberto. Se assim não fosse não tinha sido com cravos. As únicas mortes que foram praticadas, foi a PIDE na Rua António Maria Cardoso e a esses quanto a mim, não se fez a devida justiça. Quando falo em justiça, claro que era serem levados a tribunal e os que eram responsáveis por tal polícia. Essa eu não desculpo. Mas passou, estamos livres. Linda