quinta-feira, 19 de setembro de 2013

VERGONHA DE FASSBINDER

Ontem à noite, começámos a ver o  filme VERGONHA  e , sentimos que estávamos perante uma obra de referência.
Contudo, ignorávamos absolutamente quem era o seu autor.
Durante duas horas sofremos.
Entrámos completamente no drama que nos era apresentado e assumimos os problemas
Os Maias no século XXI!
Mas, aqui, a reacção ao sofrimento não é passiva..
Carlos , sofre , vê a sua vida destruída mas tenta recomeçar.
Parte.
Viaja.
Vive.
Desiludido mas reage.

Aqui , deparamos com um mergulho total na lama.
Um não querer encarar a situação.
Um mal total como condenação dum desejo impossível.

Sissi , a irmã que ele ama sem o querer assumir, é a possível esperança. Ela, na sua fragilidade luta até aos limites das suas forças por aquilo que sabe que é forte e indestrutível : o amor que os une.
Ela , assume.
Destruída
Envergonhada
Revoltada
Ela aceita porque sabe que não vale a pena lutar.
Ele
Recusa
Sofre
Mergulha no vício
Em todos os vícios que se pode imaginar
Mas não cede

Porquê ?
- O que está na origem de tal rejeição ?
- Acreditamos que Fassbinder nos deixou uma única pista.
- Quando lhe perguntam se nasceu em Los Angeles ele responde :
- Não.
  Nasci na Irlanda.
Eu e a minha irmã vivemos lá até à adolescência.
(A religião.....e a sua força...)

Talvez aqui esteja a justificação para a vergonha.
Uma cultura religiosa impiedosa para o pecado que tudo aceita menos um verdadeiro amor.

No final, após a tentativa de suicídio falhada
Após mil apelos sem aceitação
Ela ,
A irmã,
Apenas diz :
- Não passas dum imbecil.

E , nós pensamos .
Mas, porque razão este casal vive um sofrimento tão atroz ?
Porque é que  o incesto é condenado ?
O que leva a essa condenação ?
A cultura ?
O perigo da potencialização de genes negativos ?

Ficámos aturdidos com a violência do filme e com a problemática apresentada.
Vergonha !
De Fassebinder
Um filme para ver
Reflectir

Levar-nos até ao nosso querido Eça.
Também ele, no século XIX se deixou impressionar pelo mesmo tema.
Carlos , porém era mais forte ( tão forte que não desistiu de Maria Eduarda mesmo  após a terrível revelação ) .
Ontem à noite assistimos , completamente estupefactos, ao drama de quem aceita todas as situações degradantes que surgem para fugir a um incesto inevitável.
Fassbinder
Fassbinder
Que grande realizador !


 Filmes assim, reconciliam-nos com o cinema.
O nosso serão de ontem foi bem agradável !

1 comentário:

Anónimo disse...

NÃO VI O FILME, NÃO POSSO DAR A MINHA OPINIÃO, MAS POR O QUE CONTA DEVE SER UM DRAMA DE MAGOAR A ALMA. MAS AINDA BEM QUE NÃO VI, PORQUE JÁ ME CHEGA A ALMA MAGOADA NESTE MOMENTO. MAS O ASSUNTO É EXTERIOR A MIM. LINDA