Esta reflexão sobre as mãos fez-me lembrar um poema do Engénio de Andrade, que aqui deixo (espero que gostem):
"Os trabalhos da mão
Começo a dar-me conta: a mão que escreve os versos envelheceu. Deixou de amar as areias das dunas, as tardes de chuva miúda, o orvalho matinal dos cardos. Prefere agora as sílabas da sua aflição. Sempre trabalhou mais que sua irmã, um pouco mimada, um pouco preguiçosa, mais bonita. A si coube sempre a tarefa mais dura: semear, colher, coser, esfregar. Mas também acariciar, é certo. A exigência, o rigor, acabaram por fatigá-la. O fim não pode tardar: oxalá tenha em conta a sua nobreza." In Oficio da Paciência
1 comentário:
Esta reflexão sobre as mãos fez-me lembrar um poema do Engénio de Andrade, que aqui deixo (espero que gostem):
"Os trabalhos da mão
Começo a dar-me conta: a mão
que escreve os versos
envelheceu. Deixou de amar as areias
das dunas, as tardes de chuva
miúda, o orvalho matinal
dos cardos. Prefere agora as sílabas
da sua aflição.
Sempre trabalhou mais que sua irmã,
um pouco mimada, um pouco
preguiçosa, mais bonita.
A si coube sempre
a tarefa mais dura: semear, colher,
coser, esfregar. Mas também
acariciar, é certo. A exigência,
o rigor, acabaram por fatigá-la.
O fim não pode tardar: oxalá
tenha em conta a sua nobreza."
In Oficio da Paciência
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