segunda-feira, 29 de outubro de 2012

CADÁVER ADIADO

Encontrei-a hoje.
Quase não a reconheci.
Onde estava a Manuela , de Germânicas que encontrávamos nos exames que tínhamos em comum , na antiga Faculdade de Letras?
Uma sombra.
Ficou uma sombra.
Está uma sombra.
Porquê ?
Porque deixou que a vida a tratasse assim ?

- Tens netos?
   Quantos ?

- A minha filha não casou.
  O meu filho , esteve casado pouco tempo.
   Divorciou-se.
   Não. Não tenho netos.
   Nada que me prenda  à vida.
   E , a doença do meu marido está a acabar comigo.
   Não aguento mais.


Onde estão as palavras que devem ser ditas quando queremos demonstrar a nossa revolta ?
Não as encontramos.
Apenas sabemos que ela não foi capaz de subir a montanha.
Conhecemos o percurso que, consciente ou inconscientemente, percorreu. Um marido difícil. Uns filhos problemáticos.  
Ainda tentou.
Foi-se embora.
Regressou.
Agora.....
Coitado.
 O Alzeimer...
Tão difícil 
Tão difícil!


 -Adeus, minha amiga.
Tem cuidado contigo.
Pensa em ti.
EM TI.

1 comentário:

Anónimo disse...

Porque será que a vida é tão madrasta para certas pessoas? Fiquei com pena da sua amiga. Diz-se que não se deve de ter pena, mas não sei ter outro sentimento. Terá ess amiga com quem desabafar? Linda