- Há quantos anos ?
- Talvez 75 ....
Naquela cidade da província , Lagos de há décadas , a vida quase parava e ninguém saia à rua ...
Tão triste !
- Por favor. Gostava tanto de ir brincar com a Tété.
É tão perto.
Posso ir ?
- Com esta chuva ?
Que disparate !
- Eu levo o meu chapéu de chuva.
Não me molho.
Por favor, mamã.
- Vai lá mas não te molhes.
Cuidado .
A nossa história começa aqui.
Fomos com o nosso inseparável chapéu de chuva vermelho.
Tão bom, andar à chuva !
Tão bom !
Não vimos uma biciclette que vinha na nossa direcção. Atropelou-nos. O rapaz que a conduzia ( filho de uma amiga da nossa mãe ) caiu sobre nós .
Uma confusão !
- Vinhas distraída por isso não me viste....
Ficaste mal ?
Um vergão enorme vermelho estava a aparecer na parte superior da perna....
Dói-te ?
- Não. Não me dói.
Então vamos fazer uma coisa :
"Não contamos a ninguém que eu te atropelei.
Combinado ?
Se sabem ainda me tiram a biciclette..
Por favor, não digas nada.
Está combinado ."
Estivemos com a nossa amiga. Tété. Brincamos e ao fim da tarde regressamos a casa .
- Filha, o que tens na perna ?
Parece uma cobra .....
Como arranjaste este vergão ?
- Não sei, mamã
Não sei.
Apareceu .
- Apareceu como ?
Tão estranho !
Dói-te?
Não doía.
O segredo foi guardado para sempre.
A recordação ficou.
A amizade com quem nos atropelou ainda existe.
A cumplicidade faz-nos rir.
Uma verdade:
As crianças sabem mentir e guardar os seus segredos.
Sabem, sim senhor.
1 comentário:
As crianças sabem mais do que alguns adultos pensam, (aqueles que se esqueceram como eram na infância ). Não dizia o que ouvia, mas não me mandassem sair, porque aí, não havia portas que resistissem aos meus ouvidos. A 2ª.guerra muita coisa ouvi e nunca mais esqueci. E sempre guardei segredo porque me apercebia dos perigos desse tempo. Para compreender as crianças, não há nada como recordar a nossa infância. Linda
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