Durante 26 anos tivemos a mesma empregada doméstica.Óptima profissional, competente e da maior honestidade .Com o passar do tempo foi sendo considerada como um membro da nossa família. Assim , não é de estranhar, que estivéssemos a par dos seus problemas , que infelizmente foram muitos.
O marido, entrou cedo na reforma , devido a doença profissional , tendo recebido a devida indemnização. A única filha ( da idade dos nossos filhos ) terminado o liceu tirou um curso de secretariado e empregou-se na Óptimus.Aqui começaram os problemas. Ou trabalhava horas a mais. Ou não aceitava as ordens do chefe. Ou sentia-se perseguida e explorada. Havia sempre algo que a levava a esgotamentos / depressões / baixas.
Entretanto chegou a altura de casar.
A mãe entrou de férias para tratar da cerimónia. O noivo era segurança, a família de certo estatuto e " não podiam fazer má figura, não é ?". Sendo assim toca a comprar um andar ( as prestações vão eles pagando ...) Agora o vestido de noiva ( um dinheirão, mas tem que ser. Agora o copo de água......E a lua de mel ( também têm direito, não é ?)
Agora
Agora.
Gasta-se o ordenado e o subsídio de férias da mãe.
Gasta-se a indemnização do pai.
Gasta-se o que se pode e não pode.
Tem que ser, não é?
Passados alguns meses ai que ele- o noivo- não era o que parecia. Violência doméstica, pois claro.Ciúmes e mais ciúmes. " Ontem bateu-lhe com a cabeça na parede e ela foi parar ao hospital."
Divórcio ?
Já?
Mas ainda não há um ano ...
E a casa?
Fica para ela, claro.
E as prestações ?
Paga com o que ganha.
E até ganha bem.
Coitada! Tem que andar 10minutos a pé até ao Metro.
Agora apareceu à venda em segunda mão um carrinho.
Tem que comprar, não é ?
Paga a prestações, claro.
-Coitadinha da minha filha.
Está de baixa outra vez porque não aguenta tanto trabalho .
Descarregam tudo nela.
-Imagine-se. Vão negociar a saída da empresa porque começaram com a redução de pessoal.
Mas , não há problema.
Vai receber uma boa quantia.
Entretanto morre o pai.
A mãe cada vez mais doente acaba por ter um AVC.
O dinheiro acaba-se.
Os empregos que aparecem não são adequados às suas habilitações.
Vive com o subsídio de desemprego.
Todos os lugares que aparecem são de baixo nível
( Vale mais receber o subsídio, não é?)
O Banco começa a enviar cartas a indicar a possível perda da casa.
E lá vai ela, a nossa amiga, vivendo como sabe e pode.
- ALIENAÇÃO?
- TOTAL ALIENAÇÃO!
1 comentário:
E os pais não tiveram culpa nessa alienação? Não concederam e cederam aquilo que não deviam, nem podiam? Lá estão pessoas que não resistiram ao: faça, compre agora e pague depois. Mais uma vida destruída ajuntar-se a milhares que por esse mundo vão aumentando todos os dias. Linda
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