segunda-feira, 17 de outubro de 2011

CLARE HOLLINGWORTH

Sabem quem é Clare  Hollingworth?
É uma velha senhora que acabou de fazer 100 anos
Mas é igualmente um nome de referência do jornalismo mundial.

Esteve nos palcos  de conflito da II Guerra Mundial, Médio Oriente, Argélia, Índia, Vietname. Onde houvesse relatos de acontecimentos de impacto  lá estava ela com a sua perspicácia e arrojo , pronta para os narrar.
A sua vida dava um filme.
Que filme!
Tinha 27 anos , estava no princípio da sua carreira quando foi enviada pelo jornal britânico Daily Telegraph  para a Polónia, com a missão de elaborar uma série de trabalhos  sobre a crescente tensão na Europa, onde as ameaças nazis não eram levadas a sério.
Clare entrevistou o cônsul - geral britânico, enviou os seus primeiros relatórios e como a fronteira estava  fechada à circulação automóvel, pediu ao diplomata britânico que lhe emprestasse o carro com as insígnias diplomáticas, porque só assim podiam entrar na Alemanha. Sentou-se ao volante e fez-se  à estrada. Na Alemanha , foi às compras e muniu-se de vinho  e material fotográfico. Já tinha notado a presença de militares na estrada. Mas foi no regresso que o acaso  e a sua atenção revelaram um segredo terrível.
A jornalista , numa subida pronunciada, reparou nas enormes barreiras de juta que tinham  sido colocadas junto à estrada, bloqueando a visão dos vales. Nessa altura, uma rajada de vento deslocou um pedaço de oleado e expôs o que a Alemanha tentava esconder:
Uma maciça concentração de tropas, centenas de carros blindados, tanques, peças de artilharia.
Prontos para invadir a Polónia.

  Clare avisou o consulado britânico e relatou o que viu aos seus leitores. A BBC on line  conseguiu recuperar um dos seus famosos relatos :
"  Cruzei hoje a fronteira entre a Polónia e a região alemã da Alta Silésia e passei várias horas em Beuthen, Hindenburg e Gleiwitz. A fronteira , está fechada a todo o tráfego local. Vi por todo o lado sinais de intensa actividade militar. Nas duas milhas ( pouco mais de três quilómetros )entre Hindenburg e Gleiwitz, cruzei-me com 65 estafetas militares em motos . Os únicos carros à  vista eram de militares"



Três dias depois ,a 1 de Setembro de 1939, as tropas do III REICH  invadiram a Polónia, o primeiro acto militar da segunda Guerra Mundial. 
O que foi a ocupação nazi , não é esquecido pelos polacos mas recordam também a jovem jornalista que tendo sido a primeira a telefonar para  a embaixada em Varsóvia, pôs o telefone ao lado de fora da janela , de forma a que os diplomatas pudessem ouvir o ruído dos tanques e  acreditarem no que consideravam impossível.
Os dias seguintes encontraram-na a fugir pela Polónia, muitas vezes sem conseguir ficar para trás das linhas alemãs.
Quando, a 3 de Setembro,a Grã -Bretanha declarou guerra à Alemanha , a sua situação tornou-se ainda mais complicada.

Claire Hollingworth  
Alguém que, apesar dos seus 100 anos, recorda o que foram aqueles dias de pavor e cujas memórias não ficaram por aqui.
Continua a frequentar, em Hong Kong , onde vive, o Clube dos Correspondentes estrangeiros  e, em 1990  garantiu após uma operação:
"    Se a minha perna e o meu pé estiverem melhores amanhã e houver uma guerra aqui por perto, eu vou".
Já não pode cumprir a promessa , mas, acreditem , continua atenta ao que se passa no mundo.
Nós, também.
Sentimos uma atracção enorme pela Polónia e uma total descrença em relação à Alemanha.
Quem quer conhecer a conduta dos povos dê atenção à sua história.
A tal génese que é imprescindível a qualquer análise.
  

1 comentário:

Anónimo disse...

Houve tempo em que eu os únicos filmes agressivos que via, eram os da 2ª.guerra, agora só em saber que há um povo que deixou que aqueles crimes se praticassem assusta-me tremendamente, um estimega que têm até ao fim dos tempos. Eu sei que quando somos novos podemos tudo, mas, eu não teria a força de Clare. Mais uma mulher a admirar. Eu pasmo como há admiradores do nazismo e como há responsáveis que poêm dúvidas nas atrocidades que existiram. Linda