- Tomásia (era a nossa empregada de toda uma vida ), às cinco horas quero a menina pronta pois hoje vou tomar chá e jogar a casa da Senhora D.Mariquinhas e a menina vai comigo .
( Todas se chamavam Mariquinhas.
Todas eram ricas e bonitas
Todos os seus queridos maridos tinham amantes .)
E à hora certa lá íamos . Mãe e filha .Bem aperaltadas Tomar chá e bolinhos.
Majhong ou canastra .
As horas iam passando
A conversa desbobinando.
Recordamos uma descrição particularmente chocante .
" Sabe qual foi a última daquela desavergonhada ?
Não sabe ?
Pois imagine , a minha amiga ,que mandou colocar um genefluxório paralelo ao meu .
Na Igreja, pois claro.
Sou obrigada a vê-la na missa de domingo "
" - Que horror !
Não há palavras !
A do meu marido, agora vai à minha modista Imagine ! Acho incrível a D.Amélia aceitar trabalho tão sujo ... Nem comento ..."
Recordamos
A chuva a cair
As nossas mãos (tão pequenas ) fazendo arabescos nas janelas....
As vozes desbobinando
Desbobinando :
" Sabe o que eu acho ?
Acho que eles só as têm porque elas fazem-lhes o que nós não fazemos
É isso !
O que nós não fazemos ."
"O que seria que umas faziam e as outras não ?"
Foi algo que demoramos anos a compreender ....
Dessas tardes distantes
Tão monótonas !
Ficou-nos , além da especialização em adultérios , um ódio profundo , que ainda se mantém, por visitas .
VISITAS- O estar sentada .
A ouvir
A contar os minutos que faltam para sair.
A noção do tempo perdido
A consciência da inutilidade do estar.
AINDA HOJE NÃO CONSEGUIMOS ESTAR PRESENTES / AUSENTES
OUVINDO O QUE NÃO NOS INTERESSA .
SENDO APENAS
UM CORPO PRESENTE !
1 comentário:
Sobre o adultério com o meu mau feitio penso que não perdoava no casamento, porque em namoro não tolerei escapadelas. Uma vez minha mãe deu-me dois conselhos sobre o meu comportamento para com o homem que foram: nunca chore na frente de um homem e, quando as situações não estiverem a correr bem, abandona, não deixes que te abandonem. Conselho dado conselho seguido. Nunca me viram uma lágrima, nunca me abandonaram. Sobre a infância a minha foi menos maçadora para o meu feitio. Deixavam-me sair com a empregada e ela ia dançar no adro da Igreja (era em Braga), e eu que já nessa altura gostava de dançar, dançava com os jovens adultos, belas tardes de domingo que passei nesse tempo. Linda
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