Na nossa infância e juventude essa celebração era a 8 de Dezembro , dia da Nossa Senhora da Conceição.
Recordamos com imensa ternura essa época tão distante em que dávamos sempre um presente à nossa mãe, a maior parte das vezes, feito na escola .
Mais tarde , já em Lisboa , escolhíamos com o maior cuidado o que daríamos pois, se havia alguém com gostos refinados e difíceis de contentar ...era a nossa mãe .
Como a recordamos ?
A palavra que melhor se lhe adapta é:
IMPECÁVEL !
Sempre impecável !
No modo como se vestia , penteava , falava ...pensava ... Tudo nela estava certo .Nada de exageros . Dentro do "tom " .
" UMA SENHORA ! "
Uma senhora que se rebelava contra a filha exuberante , exagerada , pouco comedida que -ela - não conseguia domesticar .
- A quem sai esta miúda tão livre e solta ?
" Não foi esta a educação que eu lhe dei ".
( Foi a sua frase mais repetida ..)
E não foi de modo nenhum .
" Só há uma solução . Vai interna para um colégio para aprender a ter maneiras ."
Assim foi .
Porém as maneiras não foram inculcadas e a adolescente que foi para a Bafureira para aprender a ser uma menina bem , de lá regressou ainda mais contestatária .
A relação mãe / filha até aos 15 anos foi difícil . É sabido que é sempre problemático sobretudo quando a mãe é muito bonita e se sente ameaçada por uma criança / mulher precoce e que se torna uma ameaça .
A psicanálise explica . O nosso caso foi paradigmático .
Uma filhe que se fez mulher muito cedo /uma mãe que passou a considerá-la uma rival .
O pai ?
O fulcro da questão .
Édipo no seu melhor .
Mais tarde tudo mudou . Os laços estreitaram-se . A presença materna tornou-se constante e muitas vezes absorvente .
Daí a frase que , com tristeza escutamos :
-" Foi contigo que casei...Não com a tua mãe ."
Doía ! mas que fazer ?
Dá para compreender , não dá ?
Como filha única , vivíamos permanentemente com esse problema :
Amparar a nossa mãe , sobretudo na última fase da sua vida , levando a sério o papel de filha dedicada ou originar tensões matrimoniais .
Agora que tudo pertence ao passado sentimos que fizemos bem . Esquecemos os tempos tumultuosos da adolescência intempestiva que vivemos e elegemos a ternura , cumplicidade e dedicação total que caracterizaram as duas últimas décadas da sua vida .
Como a recordamos, agora :
Sempre linda e elegante . Sóbria . Viúva inconsolável de um marido que a atraiçoou vezes sem conta mas que ela amou perdidamente até partir . Fê-lo a sorrir olhando para o retrato dele .
Que tal ?
Foi assim !
Uma vida de amores violentos . Ameaças nunca cumpridas . O perdão vinha sempre .
Se ele também a amava ?
Tanto !
Duvidar disso ?
Que loucura !
Já partiram ambos .... Há mais de 20 anos . Estão juntos como achamos que desejavam.
Nós
Amanhã recordamos com uma ternura imensa a nossa mãe que teve tudo para ser feliz mas não o conseguiu ser .
Uma figura de mulher idêntica a muitas que povoaram o século XX dominado por uma mentalidade machista , conservadora , revoltada mas sofredora .
O que fazer ?
"A MULHER NASCEU PARA SOFRER !"
1 comentário:
Penso que as nossas mães eram parecidas, nas a pesar dos seus feitios não fizeram estragos e cada uma de nós fez o seu caminho. A minha reconciliação foi mais tardia, mas por motivos que se meteram no meio. No entanto ameia desde criança, para mim era a mais linda das mães e esta minha convicção dava para entrar em guerra com as outras meninas. Linda
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