quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Uma Flor no Cabelo


Hoje no Metro sentou-se à minha frente uma rapariga que me chamou a atenção. Era magra, de idade indefinida (tanto podia ter 18 como 30 anos). Percebia-se que não frequentava a praia. Nem sinal de bronzeado... Vestia calças de ganga, uma t-shirt branca de alças e calçava uns sapatos cinzentos de tenis gossos, meio desbotados.
Os braços eram magros, as mãos no colo seguravam uma carteira preta muito usada. Nem bonita, nem feia.
Então porque reparei nela? Não estava pintada, não tinha adornos, nem uns brincos! Nem um anel! Nada.
Parecia triste, pensativa, olhar perdido.
Pensei em Cesário Verde. O poeta das infelizes, abandonadas, magras, desprotegidas... Como Cesário a teria cantado!
Porquê?
Porque no seu cabelo, castanho escuro, liso, sem pretensões, havia, para meu grande espanto meu, uma flor vermelha.
Fiquei a pensar qual seria a razão que a teria levado a essa escolha. Uma flor vermelha! Noutra rapariga mais arranjada o pormenor não me teria impressionado.
Nela senti aquela flor como um apelo.
Ela tê-la-ia escolhido e usado  simplesmente para se enfeitar? Para se tornar mais atraente?
Senti aquela flor como um grito saído de uma terrível solidão.
Desejo-te, minha amiga desconhecida, que esse grito tenha eco e alguém te ajude.

3 comentários:

Moi-même disse...

Estou deslumbrada...
Que reencontro bonito!
Também tem o prazer da escrita...bem... da leitura já eu sabia!
Continue a mimar-nos com estas prosas!

Carlos Moura-Carvalho disse...

Parabéns pelo blog. Pelo que ele é em termos visuais, pelo que vai ser e sobretudo pelo que ele representa. Um exemplo.
Gostei particularmente deste post Uma Flor no Cabelo.
Sensível. perspicaz, atento, real.
já coloquei o Reencontros nos meus favoritos.
Beijo de um fan

DIOGO disse...

Impressionante... Parabéns pelo blog e pelas histórias. É fantástico como, ainda hoje (e sempre), me surpreendes com a tua força de vontade e modernidade. Continua! Este blog é uma inspiração.